ÈGBÉ – DA ESCRAVIDÃO À CIDADANIA

ÈGBÉ – Da Escravidão à Cidadania tem como pesquisa de linguagem a Cultura Hip Hop e o Teatro de rua, ambas com discurso artístico, político e social na ocupação do espaço urbano. A montagem também foi trabalhada para palco convencional. Os temas pesquisados e que permeiam todo o roteiro começam por Quintino de Lacerda – líder do segundo maior quilombo do país e primeiro vereador negro da cidade de Santos – chegando à atualidade com a formação das favelas, genocídio dos jovens negros, racismo, desigualdade social, homofobia e abusos contra a mulher negra.

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Foto: Rodrigo Montaldi Morales

A PESQUISA

Na cidade de Santos, surgiram diversas personalidades entre artistas, políticos e comerciantes, ao longo de seus 470 anos. A cidade também marcou história na luta da igualdade, contra a escravidão e principalmente pela liberdade de expressão e vontade política de suas minorias, inclusive com os negros. Foi em Santos o principio fundamental para o desenvolvimento da consciência negra, e através de um personagem fundamental na história do Brasil, Quintino de Lacerda.

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Foto Rodrigo Montaldi Morales

Nascido em Sergipe em 8 de junho de 1839, veio morar em São Paulo e depois em Santos. Na cidade do litoral paulista, Quintino liderou o Quilombo do Jabaquara, fundado em 1882 para abrigar escravos fugitivos das fazendas de café e que precisavam de proteção, pois estavam livres, mas sem destino ou emprego. Quintino foi o primeiro negro vereador e presidente da câmara de Santos. Quintino de Lacerda – Da escravidão à cidadania de Mateus Serva Pereira, é o fio condutor desta montagem de teatro Hip Hop.

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Foto Rodrigo Montaldi Morales

O que tem em comum o Hip Hop e o Teatro de Rua? São movimentos de cultura popular, de construção coletiva de valorização de identidade, de conquista do espaço público, social e político. O Hip Hop é um movimento social, político e cultural que aglutina sujeitos políticos contemporâneos que reivindicam o sentido de suas experiências em práticas específicas de atribuição de significado. O diferencial está na fusão dos quatro elementos que para muitos seriam diferentes e separados. Música, poesia, dança e pintura são unificados em uma performance dentro de um contexto social que é marginal, cheio de problemas sociais, educacionais e de exclusão social.

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Foto Rodrigo Montaldi Morales

O Teatro sempre esteve atrelado ao espaço público, ainda que muitos de seus períodos e de seus gêneros tenham se desenvolvido em salas de espetáculo. O Teatro de Rua é uma modalidade teatral fundamentalmente política, que pertence ao campo de ação política da cultura popular. Influenciado parcialmente pela estética do teatro de Bertold Brecht, o teatro de rua no Brasil introduziu elementos próprios da cultura brasileira construindo um novo caminho dentro do marco cultural nacional. Um teatro de resistência que estabelece aproximação com novos núcleos sociais.

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Foto Rodrigo Montaldi Morales

O tema da proposta de encenação ÈGBÉ – Da escravidão à cidadania, vai de encontro às características dos dois movimentos culturais que se contrapõem aos discursos autoritários, patronais, manifestações racistas e injustiças sociais.

“Toda cultura é resultado de uma seleção e de uma combinação, sempre renovada, de suas fontes. Por extensão, é possível pensar que o popular é constituído por processos híbridos e complexos, usando como signos de identificação elementos procedentes de diversas classes e nações”. O Teatro de Rua e o Hip Hop são representantes deste produto cultural dito popular que se apropriam continuamente do passado e do presente.

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Foto Rodrigo Montaldi Morales

A dramaturgia foi construída a partir do estudo das ações de Quintino de Lacerda, paralela às ações do cotidiano dos integrantes do elenco através de seus depoimentos. O estímulo à descoberta de um Quintino em cada integrante, o líder, o cidadão. As ações diante do racismo, homicídio de jovens negros, violência contra a mulher negra e a desigualdade social no cotidiano dos integrantes, foram abordados de forma que pudéssemos construir um espetáculo onde os atores falassem com propriedade e pertencimento.

RELEASE:

Através da linguagem do Teatro Hip Hop, o grupo conta a história dos negros desde a África aos dias atuais. Passa por Quintino de Lacerda – líder do segundo maior quilombo do país e primeiro vereador negro de Santos – após a escravidão, mostra as lutas dos afrodescendentes por políticas públicas integradas, contra o genocídio dos jovens negros, desigualdade social, racismo e violência contra a mulher negra.

Link do vídeo na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=RloURrm8gsY&feature=youtu.be

FICHA TECNICA:

Direção: Platão Capurro Filho
Elenco:Blendon Cassio, Bruna Telly, Carol Martins, Christian Medeiros, KidJohn Mad, Alan Mad.
Narração: Sander Newton
Convidados: DJ Litta Afrontite e Julio Mad
Figurino: Gilson de Melo Barros
Trilha Sonora: DJ Cuco
Preparação de canto: Theo Cancello
Fotografia e Designer gráfico: Rodrigo Montaldi
Video: Ferreira Filmes
Costureira: Gisele Bilotte e Maria Aparecida
Realização: Teatro Widia

Músicas e Poemas: Todo bicho tem direito a moradia de Daniel Marques, A Diferença de Achille Mbembe, Da Paz de Marcelino Freire; Fugindo do Cativeiro de Vicente de Carvalho, Navio Negreiro de Castro Alves; Lamento do Negro – Dona Ivone Lara; África Mãe de Tim Maia; Bala Perdida de Gil de Olive; África Som de Bruna Telly, Raquel Rollo e Wilson Caiçara; Navio Negreiro de Slim Rimografia. Até Quando de Gabriel O Pensador; Esú de Baco Exú do Blues. Feminista de Lady Rap, A Negra na Janela de Germano Mathias.

Agradecimentos:
Matheus Serva Pereira, Gerson Rodrigues, Anita Motta, Jessica Balbino, Alcides Mesquita, Maria Cecília e Pedro Pires (Projeto Guri), Hélio Hamilton e Claudio Fernandes (Agem), Orlando Rodrigues (Projeto: Muito Prazer! Meu Nome é Hip Hop), Murilo Netto e Cristina Vida (Deforpec) , Rafael Forte, Trupe Olho da Rua.

Referências:
TCC – Uma Viagem possível: da escravidão à cidadania. Quintino de Lacerda e as possibilidades de integração dos ex-escravos no Brasil. “Matheus Serva Pereira”
TCC – Processos teatrais na periferia: No contexto do Hip Hop – Gerson Rodrigues
Hip Hop – A Cultura Marginal – Do povo para o povo – Anita Motta e Jessica Balbino.

Equipe da primeira fase: Filipe Roseno, Veronica Oliveira, Teyles Martinez, Wilson Caiçara, Arquimedes Machado, KidJohn Mad, Maria Lisboa (Corpo), Mamuth DJ, Rodney Nunes (Preparador vocal e trilha),Vlaidner Sibrão (Grafite), Orlando Rodrigues (Produtor).

Apoio: Prefeitura de Santos, Secult, Centro Cultural Cadeia Velha. Vila do Teatro, Projeto Muito Prazer Meu Nome é Hip Hop. Trupe Olho da Rua, O Bote.

Este projeto foi contemplado no 5° Concurso de Apoio a Projetos Independentes da Cidade de Santos – Facult